o nó do pai
- Mais... Repetiu.
E tudo pareceu concentrar-se nesse "mais".
Toda a energia.
O entorno se diluiu
Desvaneceu-se.
Desvaneceu-se.
- Mais...
Acidental ou construído
Tudo é
Tudo é
Desde o começo.
O discurso, a imagem.
Nada é concluído
No entanto
A luz mais branda, os contornos...
Como explicar isso?
- Mais. Repetiu novamente.
Suspendeu a fala, o pensamento -
Viaja. Imagina. Voa bem longe!
Como explicar isso?
Devagar soprou a fumaça
Que lentamente subia em espirais.
- Mais.em nome do filho





O espírito das pedras
Aonde o mel escorre uma abelha vai e vem.
Com flavos cabelos nasceu Flávio.
Era noite fria, o vento fazia volta nos morros, os canaviais arrepiavam.
Longe, tristes bois puxavam outro carro.
No engenho o vapor da garapa esquentava o ar; o da cachaça os espíritos.
Um fio filtrado de luz tremeluziu no escuro sobre o espelho dos paroes.
Sob o céu azul aço puro de abril, a soca do arrozal a perder de vista, sua mãe partiu na boléia com o intermediário.
Com o paiol vazio e os paroes secos o irmão mais velho de Flávio o deixou na zona.
Seu pai endoideceu.
Seu pai endoideceu.
Pité, como foi chamado, dividiu as tetas da ama com uma serpente: Píton.
Aos doze anos amarrou as quatro patas de um touro depois de derrubá-lo na poeira do curral com os próprios punhos.
Ele me contou muitas estórias.
Seus olhos brilhavam em meio a espirais de douradas serpentes.
Da morte dizia que a alma vira cobra, que o corpo é a sepultura da alma e a alma é o tutano da espinha.
- Sou um ser equívoco - dizia. - Nascido do tempo. Meu pai é meu avô.
Morreu jovem.
Tenho-o vivo na memória. Vivo e morto alias. Agora e às portas do paraiso.
Sinto o seu gosto no cheiro da cachaça.
Sinto o seu gosto no cheiro da cachaça.
Quando o conheci ele era mecânico. De dia. À noite montava peças.
- A música comanda as pedras! - brincava.
Vi desenhos seus de criança: uma mulher ateando fogo numa vivenda...
Seus olhos emudeceram.
Filho pai e avô num só, pensei.
Seus olhos emudeceram.
Filho pai e avô num só, pensei.
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